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FOTOGRAFIAS

PRATO IM(PER)FEITO

Prato Im(per)feito

Barbaridades (2020)

PROMOÇÃO

MEU ÍNTIMO BLUE

Por muito tempo insisti em recusar meu patrimônio genético. Nasci em uma família gorda. Não nasci gorda, pelo contrário, era a única magra entre tantas pessoas gordas. Pessoas gordas que se divertiam e ao mesmo tempo se martirizam com as delícias da mesa. Ser magra dentro desse contexto nunca foi privilégio, pelo contrário, queriam me manter magra, salva das “desgraças de habitar um corpo gordo”. Martirizei-me por anos para manter o título de “a magra da família”. Foram décadas de suor em academias, idas e vindas em endocrinologistas malucos, chás de todas as ervas, bafo de fome, dores no estômago, cabeça, anfetaminas e um lindo jeans 36 sempre agarrado ao meu corpo magro e dolorido. Aos 25 anos fiquei grávida do meu primeiro filho, fiz dessa gravidez minha alforria estética, comi enlouquecidamente por nove meses seguidos. Minhas roupas aumentavam de número numa velocidade inacreditável! Ao final dos nove meses havia engordado 40 quilos e estava totalmente irreconhecível. Foram várias tentativas e loucuras para voltar a entrar no meu amado jeans, que mantive guardado no maleiro. Certa vez, quase consegui. Depois de sete anos tive meu segundo filho e depois de outras tentativas de emagrecimento loucas e em vão, o jeans foi doado com um monte de outras peças que levaram junto essa busca frenética de um biotipo que não é o meu, que nunca me pertenceu de fato e que me violentou e me oprimiu por anos e anos. Hoje me sinto bem mais leve no meu adorável e confortável jeans 48 que hoje tiro sem pudor e me divirto, me permito ser verdadeiramente amada porque me amo e tenho certeza de que sou uma delícia!

© 2021 POR CAMILA PEREIRA.

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